O cinema brasileiro ganhou mais um marco com o filme "Baby", do diretor Marcelo Caetano, que tem chamado a atenção tanto no cenário internacional quanto no Brasil.
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Divulgação/Vitrine Filmes
Selecionado para a 63ª Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024, o longa-metragem conquistou o prêmio de Melhor Ator para Ricardo Teodoro, consolidando-se como uma das produções mais relevantes do ano.
Com uma narrativa crua e sensível, o filme mergulha nas complexidades da vida nas ruas de São Paulo, explorando temas como solidão, sobrevivência e as nuances das relações humanas.
A trama
O filme acompanha Wellington, interpretado por João Pedro Mariano, um jovem gay apelidado de "Baby", que é libertado de um centro de detenção juvenil e se vê perdido nas ruas de São Paulo.
Sem contato com os pais e sem recursos para reconstruir sua vida, Wellington se depara com um mundo hostil e desprovido de empatia.
Em meio à selva de pedra, ele encontra refúgio em um cinema pornô, frequentado principalmente por homens gays, onde conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa experiente que o acolhe e lhe ensina novas formas de sobreviver.
A relação entre os dois personagens é o cerne da trama, desenvolvendo-se em meio a conflitos, ciúmes, proteção e cumplicidade.
Caetano constrói uma narrativa que vai além do óbvio, explorando as camadas emocionais e sociais que envolvem a vida de quem está à margem.
A dinâmica entre Wellington e Ronaldo é ao mesmo tempo delicada e tensa, refletindo as contradições e desafios de suas realidades.
Trailer do filme
Um retrato urbano e social
"Baby" não é apenas a história de dois indivíduos; é um retrato vívido da cidade de São Paulo e das contradições que a permeiam.
O filme evita clichês ao abordar a vida nas ruas, optando por uma abordagem realista e sem romantizações.
A solidão e a falta de empatia da metrópole são contrastadas com a busca por conexão e acolhimento, temas universais que ressoam profundamente no espectador.
Marcelo Caetano, conhecido por seu trabalho em "Corpo Elétrico" (2017), demonstra mais uma vez sua habilidade em retratar histórias que mesclam o pessoal e o político.
Em "Baby", ele mergulha em um cenário urbano vibrante, mas também opressor, explorando as dificuldades da reintegração social após o período de detenção.
O diretor consegue capturar a essência de uma São Paulo que muitas vezes é ignorada, trazendo à tona questões urgentes sobre exclusão, identidade e sobrevivência.
Atuações marcantes e reconhecimento internacional
O filme já coleciona premiações e reconhecimento. Além do prêmio de Melhor Ator para Ricardo Teodoro em Cannes, "Baby" foi exibido em importantes festivais brasileiros, como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio — onde ganhou o prêmio de Melhor Filme — e o Mix Brasil, no qual Teodoro foi premiado por sua Melhor Interpretação.
João Pedro Mariano, no papel de Wellington, entrega uma atuação comovente e cheia de nuances, capturando a vulnerabilidade e a resiliência de seu personagem.
Já Ricardo Teodoro, como Ronaldo, traz uma performance poderosa, equilibrando charme, dureza e fragilidade.
A química entre os dois atores é incrível, elevando a narrativa a um patamar emocional ainda mais impactante.
Um filme para refletir
"Baby" é mais do que um filme; é um convite à reflexão. Ao retratar a vida de jovens marginalizados, o longa-metragem coloca o espectador diante de questões sociais urgentes, como a falta de oportunidades, a exploração e a busca por identidade e pertencimento.
A narrativa, embora centrada em personagens LGBT, transcende barreiras e fala sobre a condição humana de forma universal.
Com uma direção segura, atuações marcantes e uma fotografia que captura a essência da cidade, "Baby" se consolida como um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo.
Marcelo Caetano prova, mais uma vez, que sabe contar histórias que emocionam, incomodam e, acima de tudo, fazem pensar.
Em um mundo cada vez mais fragmentado, "Baby" nos lembra da importância da empatia e da conexão humana.
E, talvez, seja essa a maior lição que o filme nos deixa: mesmo nas circunstâncias mais difíceis, ainda há espaço para acolhimento e esperança.
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